A importância de sentir-se útil
Há pouco mais de uma semana, duas alunas do curso de psicologia da PUC foram até a empresa onde trabalho para conversar comigo sobre como é meu dia a dia por lá, se eu tive dificuldades para conseguir emprego e mais outras questões relativas a trabalho e pessoas com deficiência.
Acabei falando muito – como de costume –, mas depois fiquei com a sensação de que poderia ter abordado melhor alguns assuntos.
Poderia, por exemplo, ter falado mais sobre como trabalhar foi importante para mim há 9 anos atrás. Na época eu era estagiário e também fazia alguns trabalhos como free-lancer, o que me rendia o suficiente para meus gastos do dia a dia, saídas e pequenas viagens. Quando me tornei cadeirante, naturalmente, tive que me afastar temporariamente do estágio. Um mês depois, quando mal tinha começado meu tratamento de reabilitação, me deram um ultimato: ou voltava pro estágio ou cortariam a bolsa. Como ainda não tinha condições de trabalhar, acabei perdendo aquela fonte de renda justamente no momento em que mais precisava dela.
O pior de tudo é que, como estagiário, eu deveria ter um seguro contra acidentes pessoais, mas meu contratante não o tinha feito. Acabei saindo com uma mão na frente e outra atrás. Pensei em entrar na justiça, mas como o estágio era na própria faculdade, no NCE/UFRJ, e ainda teria que freqüentar aqueles laboratórios durante alguns anos para me formar, decidi não comprar a briga e me tornar “inimigo”, até porque eu precisaria da boa vontade deles para que rampas e outras adaptações fossem feitas na faculdade. Arrependo-me amargamente, pois fiquei sem o seguro e o NCE não moveu uma palha para fazer as adaptações que eu precisava.
Mas voltando à época do começo da reabilitação, no início de 1999, eu estava fisicamente, emocionalmente e financeiramente dependente. Não era capaz sequer de sair sozinho da cama para cadeira, não fazia mais estágio e era incapaz de encontrar um rumo. Sentia-me um completo inútil.
A grande virada começou quando um amigo me indicou para um projeto como free-lancer. O cliente ficava em São Paulo, e eu poderia realizar todo trabalho a partir de casa, usando meu computador, o telefone e a Internet para me comunicar. Até as reuniões seriam virtuais. E teria também flexibilidade total de horários, o que era estritamente necessário por causa das aulas na faculdade e sessões de reabilitação. Bati um papo por telefone com o tal cliente e fechamos o projeto, que começou logo em seguida. O cliente nem sabia que eu usava cadeira de rodas e isso foi muito bom para mim. Eu tinha sido contratado por ser um profissional bem recomendado, e não simplesmente para ajudarem um “pobre jovem recém cadeirante e precisando de dinheiro”. Sim, fez toda diferença! O projeto durou meses e foi um sucesso, mas o melhor de tudo mesmo foi voltar a trabalhar, ser tratado como profissional, ganhar meu próprio dinheiro e me sentir útil. Foi um dos meus primeiros grandes passos para independência.
sem dúvidas… apesar de trudo, temos que agir com a razão e se organizar o quanto antes… comecei a trabalhar ainda no colegial que fiz cadeirante e já digitava trabalho p/ um montão de gente, não fiz estágio, mas sempre fui atrás do meu din din… passei por uma situação idêntica, me contrataram e não sabiam que eu era cadeirante!
Concordo, voltar ao mercado de trabalho também foi excencial pra mim. Pena que ainda seja difícil para a maioria dos PPD’s, pois envolve ter vagas disponíveis, deslocamento, acesso, etc.
Muito bom o texto !
Abçs,
Cris
Cris, também acho que o principal problema para as pessoas com deficiência é a falta de acessibilidade. Sem acesso, fica muito difícil estudar e trabalhar. Transporte público acessível já! Abraços, Eduardo.
É importantissimo trabalhar,o ditado que diz:O trabalho edifica o homem;é bastante verdadeiro!!
Abraços!!
Pois é, Eduardo. Acho que o processo de reinserção na sociedade passa muito por aí: sentir-se útil. Assim, a deficiência vira, na medida do possível permitido pela acessibilidade, apenas algo a mais.
Mas que ninguém se engane pensando que nascer com uma deficiência torna tudo mais fácil. Embora se tenha, em teoria, pelo menos, mais tempo para aprender a lidar com ela, as situações são praticamente as mesmas, especialmente no que depende da postura do outro ou da sociedade como um todo.
É, Marcia… Se tivéssemos mais acesso, muito mais coisas seriam permitidas! E também concordo que há grandes dificuldades para pessoas com deficiência, independente dela ser de nascença ou adquirida. Nenhuma das duas situações é fácil. Abraços, Eduardo.
cabeça vazia, oficina do diabo..
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